ERAM NOVE HORAS DA NOITE...ALGUÉM CHAMA NO PORTÃO... QUEM VEM LÁ ?
A CASA DE ROÇA DOS VELHOS TEMPOS
Lá vem o seu Lipinski vem com as suas encomendas mal feitas;
Digo mal feitas, porque eram feitas pela metade, dizia sua esposa;
Sua mulher mandava-o fazer as devidas compras de roça,
Ele nunca comprava o que devia, ele sempre comprava o que não devia,
Assim sempre reclamava a sua esposa dona Baranocha (seu apelido)
Seu Lipinski sempre tomava primeiro suas doses da manguassa, marvada pinguinha,
(o seu chlug) que quer dizer trago em polonês,
Daí, contava histórias e casos o dia todo no boteko do seu Fritz,
Depois, já noite seguiria a sua viagem para o alto da colina, local onde morava.
Assim ele jamais iria se relembrar de sua lista de compras...?
É claro, se esquecia de tudo ou só poderia lembrar-se pela metade de sua lista de compras,
Assim falava e reclamava dona Baranocha, como se dizia na roça em sua Venda.
Naquela época, o tempo não corria a gente não tinha muita pressa,
Não se contava as horas; Não se contava uma produção feita as pressas...?
Uma produção mal feita, uma produção em série, produção sem qualidade,
Produtos de hoje que são de menos valia para a vida,
São produtos de valor mínimo para a vida,
São produtos com valor de: Um e Noventa e Nove;
Nesta época não se corria atrás de tantas vaidades da vida,
Não se andava com o relógio na mão, para se ver as horas,
Olhava-se para o sol, o sol e a lua eram nossos astros guias,
Na contagem dos tempos, na contagem das estações, na contagem da vida...?
Ou então, quando alguém teimava em saber as horas;
Olhava-se para a sombra do velho engenho de cana de açúcar,
Mandava-se que se olha-se para o sol ?
Assim, conforme estava a sombra declinada do sol, se dizia: são doze horas !
Era a hora sagrada, era a hora do almoço; do arroz com feijão e pão de milho,
Com bastante carne de porco com torresmo, mais as saladas de pepinos em conservas;
Tudo era feito em salmoras com bastante sal grosso e vinagre,
Com bastante ovos fritos ou ovos mexidos, com mandioca amassada frita e meladão.
O almoço sempre era um momento sagrado, se fazia a oração para se agradecer a Deus
Pelo pão nosso de cada dia, tempo de fartura e se dizia:
Deus seja sempre louvado em Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
A comida era boa, se dizia na roça que, o melhor tempero da comida era a fome que fazia,
E como se comia...? comia-se um prato, dois, três pratos cheios.
A gente comia para encher a barriga, a gente não sabia se alimentar,
Mas dizia-se: Vamos encher a barriga, era isso mesmo que a gente fazia.
Sem muita etiqueta, sem cerimonias vazias com enfeites de arrogância
das vaidades humanas, a franqueza era uma meta dos cai piras de roça.
A verdade e a honra eram as nossas linhas mestras para a vida.
Tempo de roça tinha-se mais hospitalidade, mais camaradagem,
As pessoas e as famílias,parece que eram mais amigas, mais prestativas,
Não se tinha a televisão, nem Internet, nem computador,
A conversa na varanda da casa, assim se passava o tempo nas noitadas afora...
Falando em conversas, o seu Lipinski era um especialista,
Ele era como se diz nos ditados: Conseguia e "transformava o ouvido em vista",
Suas palavras eram contadas em figuras de linguagem,
Que nos faziam delirar de emoção,então,a gente sempre queria ouvir mais outro caso,
Mais outra história, mais outra figura, mais outro comentário...
Eram dez horas da noite, o homem estava falando, eram onze horas da noite,
Mais conversas e rola-papo...rola-papo sem fim...?
Ouvia-se os cachorros do mato uivando nos matagais dos morros,
A lua cor de prata continuava cintilante lá no céu.
Meu velho avô seu Janek Odwazny que a pedido de seu Linpinki,
Deveria buscar a Santa Bíblia que era escrita em pononês,
Bíblia esta que datava dos anos de 1898 publicada pela Sociedade Bíblica polonesa,
Era uma bíblia grande com bastante ilustrações, também era chamada de:
História Sagrada, sagrada pelo seu conteúdo e seu respeito que se tinha.
Agora então, não se tinha pressa mesmo, o seu Lipinski já estava um pouco melhor
Depois do seu pórre de cana brava, agora estava melhor,mas, nem tanto...?
Estava como se diz no datado: estava mais ou menos...?
Parecia que o homem se transformava em um grande pregador,
ficava muito animado com as histórias da bíblia,
Meu avô lia uma passagem da bíblia da qual ele muito apreciava que eu lembro até hoje eram:
Quando Moisés lança as dez pragas sobre o Egito.
Que mensagem! Aqui parece que a marvada pinga não o atrapalhava em nada, pelo contrário,
Deixava-o mais animado e inspirado para comentar e pregar.
Ele não sabia ler, meu avô era o seu leitor, e ele era o pregador da noite,
Que tempo, que momento que ficou na saudade!
Mas aqules anjos que no tempo eu perdí, a companhia deles eu perdi...?
Aqueles anjos que nos guardavam e protegiam em nosso tempo de infância e juventude,
Oh como era consoladora a sua presença cheia de esperança e fé!
È correto a poesia cantada pelo cantor Roberto Carlos que nos diz:
Mas aqueles anjos que agora já se foram, depois que eu cresci...
Meu mundo agora parece tão distante...? Depois que crescí,
Agora podemos dizer como nos escreveu o salmista:
"O anjo do Senhor acampasse ao redor dos que o temem e os livra..."
Alfonso Czaplinski
segunda-feira, 12 de abril de 2010
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