segunda-feira, 12 de abril de 2010

MASSARANDUBA - MINHAS ORIGENS DE ROÇA

ERAM NOVE HORAS DA NOITE...ALGUÉM CHAMA NO PORTÃO... QUEM VEM LÁ ?

   A  CASA  DE  ROÇA   DOS  VELHOS  TEMPOS

Lá vem o seu Lipinski  vem com as suas encomendas mal feitas;
Digo mal feitas, porque eram feitas pela metade, dizia sua esposa;
Sua mulher mandava-o fazer as devidas compras de roça,
Ele nunca comprava o que devia, ele sempre comprava o que não devia,
Assim sempre  reclamava  a sua esposa dona Baranocha (seu apelido)
Seu Lipinski sempre tomava primeiro suas doses da manguassa, marvada pinguinha,
(o seu chlug) que  quer  dizer  trago em polonês,
Daí, contava histórias e casos o dia todo no boteko  do seu Fritz,
Depois, já  noite seguiria a sua viagem para o alto da colina, local onde morava.
Assim  ele  jamais  iria se relembrar de sua lista de compras...?
É claro, se esquecia de tudo ou só poderia  lembrar-se  pela metade de sua lista de compras,
Assim falava  e  reclamava  dona  Baranocha, como se dizia na roça  em sua  Venda.

Naquela época, o tempo não corria  a gente não tinha muita pressa,
Não se contava as horas; Não se contava uma produção feita as pressas...?
Uma produção mal feita, uma produção em série,  produção sem qualidade,
Produtos  de  hoje que são de menos valia para a vida,
São produtos de valor  mínimo  para  a  vida,
São  produtos  com  valor de:  Um  e  Noventa  e  Nove;
Nesta  época  não se corria  atrás  de  tantas  vaidades  da  vida,

Não se andava com o relógio na mão, para se ver as horas,
Olhava-se para o sol, o sol e a lua eram nossos astros guias,
Na contagem dos tempos, na contagem das estações,  na contagem da vida...?
Ou  então, quando  alguém  teimava  em  saber  as  horas;
Olhava-se para a sombra do velho engenho de cana de açúcar,
Mandava-se  que  se  olha-se  para  o  sol ? 
Assim, conforme estava a sombra declinada do sol, se dizia: são doze horas !
Era a hora sagrada, era a hora do almoço; do arroz com feijão e pão de milho,
Com bastante carne de porco com torresmo, mais as saladas de pepinos em conservas;
Tudo  era  feito  em salmoras com bastante sal grosso e vinagre,
Com  bastante  ovos fritos ou  ovos  mexidos, com mandioca amassada frita e meladão.
O almoço sempre era um momento sagrado, se fazia a oração para se agradecer  a  Deus
Pelo pão  nosso de cada dia, tempo de fartura e se dizia:
Deus seja sempre louvado em Nosso Senhor  e  Salvador Jesus Cristo.
A comida era boa, se dizia na  roça  que, o melhor tempero da comida era a fome  que  fazia,
E como se comia...? comia-se um prato, dois, três pratos cheios.
A gente comia para encher a barriga, a gente não sabia se alimentar,
Mas  dizia-se: Vamos encher a barriga, era isso mesmo que a gente fazia.
Sem muita etiqueta, sem cerimonias vazias com  enfeites de  arrogância
das vaidades humanas, a franqueza era uma meta dos cai piras de roça.
A verdade e a honra eram as nossas linhas mestras para a vida.

Tempo de roça  tinha-se mais hospitalidade, mais camaradagem,
As pessoas e as famílias,parece que eram mais amigas, mais prestativas,
Não se tinha a televisão, nem Internet, nem computador,
A conversa na varanda da casa, assim se passava o tempo nas noitadas afora...

Falando em conversas, o seu Lipinski era um especialista,
Ele era como se diz nos ditados:  Conseguia e "transformava o ouvido em vista",
Suas palavras eram contadas em figuras de linguagem,
Que nos faziam delirar de emoção,então,a gente sempre queria ouvir mais outro caso,
Mais outra história, mais outra figura, mais outro comentário...
Eram dez horas da noite, o homem estava falando, eram onze horas da noite,
Mais conversas e rola-papo...rola-papo sem fim...?
Ouvia-se os cachorros do mato uivando nos matagais dos morros,
A lua cor de prata continuava cintilante lá no céu.

Meu velho avô seu Janek Odwazny  que  a pedido de seu Linpinki,
Deveria buscar a Santa Bíblia que era escrita em pononês,
Bíblia esta que datava dos anos de 1898 publicada pela Sociedade Bíblica polonesa,
Era uma bíblia grande com bastante ilustrações, também era chamada de:
História Sagrada, sagrada pelo seu conteúdo e seu respeito que se tinha.

Agora então, não se tinha pressa mesmo, o seu Lipinski já estava um pouco melhor
Depois do seu pórre de cana brava, agora estava melhor,mas, nem tanto...?
Estava como se diz no datado: estava mais ou menos...?
Parecia que o homem se transformava em um grande pregador,
ficava muito  animado com as histórias da bíblia,
Meu avô lia uma passagem  da  bíblia da qual ele muito apreciava   que eu lembro até hoje eram:
Quando  Moisés  lança  as dez pragas  sobre o Egito.
Que mensagem! Aqui parece que a marvada pinga não o atrapalhava em nada, pelo contrário,
Deixava-o  mais animado e  inspirado  para comentar e pregar.
Ele não sabia ler, meu avô era o seu leitor, e ele era o pregador  da  noite,
Que tempo, que momento que ficou na saudade!

Mas aqules anjos que no tempo eu perdí, a companhia deles eu perdi...?
Aqueles anjos que nos guardavam e protegiam em nosso tempo de infância e juventude,
Oh como era consoladora a sua presença cheia de esperança e fé!
È correto a poesia cantada pelo cantor Roberto Carlos que nos diz:
Mas aqueles anjos que agora já se foram, depois que eu cresci...
Meu mundo agora  parece  tão distante...? Depois  que  crescí,
Agora podemos dizer como nos escreveu o salmista:
"O anjo do Senhor acampasse ao redor dos que o temem e os livra..."

Alfonso Czaplinski

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